sábado, outubro 04, 2014

Artigo que escrevi na época do Mensalão - me parece atual



Entrevista estarrecedora do Ministro Gilberto Carvalho.

Ao ser perguntado se o Presidente Lula sabia do mensalão ele, simplesmente, como se fosse a coisa mais natural do mundo, confessou seu crime e acusou o Presidente..

Código Penal
Prevaricação
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
........................
Condescendência criminosa
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

O Sr. Ministro, nessa entrevista, literalmente declarou ao ser perguntado: Lula sabia do mensalão?

Disse:
Eu tenho um fato, eu não sei em que dia foi, mas que formou a convicção absoluta de que o Lula não acompanhava as coisas. O Lula me chamou, já com a denúncia na rua, e disse: “Gilbertinho, eu quero que você vá para São Paulo, sentar com o Delúbio, e eu quero que ele explique que coisa é essa que está acontecendo”. Peguei um avião naquele mesmo dia e fui para São Paulo, sentei com o Delúbio no terceiro andar do Diretório Nacional, no sofá que tinha lá, e falei: “Delúbio eu vim aqui para você me contar e história”. Foi ai que o Delúbio me deu a explicação da aproximação dele com o Marcos Valério. Que no desespero, ele teve que recorrer ao empréstimo que o Valério e, a partir daí, a relação com o Roberto Jefferson, enfim, aquela coisa toda. ....”

Ou seja, se não sabiam, souberam, com detalhes, e não fizeram nada, prevaricaram. Como autoridades, se sabedoras de um crime, eram obrigadas a agir.

Mais adiante na mesma entrevista justifica o caixa dois, utilizando-se do argumento: nos fazemos, mas todo mundo o faz.

Este é o grande mal. Banaliza-se o crime. Mal não é fazer, é ser pego. Este é o PT.

Isto tudo me lembra um Fato.

No início dos anos 20 do século passado, meu avô era Delegado de Polícia na pequena Dom Pedrito, no Ponche Verde Gaúcho, debruçada nas colinas de Bagé, às margens do Rio Santa Maria.

Num início  de tarde modorrenta de um tórrido janeiro, de forma estabanada, incorre delegacia a dentro o Cabo Gaudêncio. Entre um arfar e uma gaguejada, conta: Doutor prendi o meliante. Meu avô como de era de seu estilo, levanta os olhos, sereno sem demonstrar emoção profere: vamos com calma, quem, como e aonde.

O Sr. Sabe, fala o cabo, meu avô responde, não, não sei, o Senhor não me contou ainda.

Lembra aqueles roubos, as joias da Dona Isaura, as peças de chita da Casa Ramos, as mantas de charque do Tadeu, o relógio do Zé da farmácia, os cem contos de réis do Prefeito, tudo que vem sumindo nos últimos tempos. Prendi o ladrão.

Como? Me explica melhor.

Pois é, aquele leitão que o senhor me deu no Natal, eu não matei, estava guardando para o inverno para fazer banha. Hoje de manhã ele sumiu. Sai procurando feito louco. Quando ouvi o grunhido, num rancho lá pelas bandas do Rio, fui atrás e encontrei, já com faca na mão pronto para fazer o serviço o Nhoca, saquei a garrucha e disparei primeiro para cima, com o senhor sempre determinou. O desgraçado nem se moveu, como se esperasse, largou a faca, levantou as mãos e gritou “me rendo”. Aí esta ele, no xadrez.

Quem? Perguntou meu avô, entre a incredibilidade e o espanto. O Nhoca, filho da Zefa, que trabalhou lá em casa? Não é possível. Afirmou. É verdade Doutor, eu no supetão também não acreditei, mas ele confessou e não precisou nem um pescoção.

Lentamente ele se levantou, firmou as botas, retirou o revolver da cintura, pois não ingressava armado na cadeia e exclamou. Deixa eu ver isto.                                                                                                                                                                          
Sem demonstrar pressa e com paços firmes, atravessou o pátio interno da Delegacia e entrou na cadeia, um prédio baixo, nos fundos, que tinha sido um matadouro há muito. De alguma forma, pensava, ainda tem o cheiro.

Sentado num canto estava o Nhoca, o mesmo menino que tinha visto crescer de calças curtas e pés descalço. Diligente mandalete, que num pé cá outro lá, levava um bilhete, pegava um remédio na farmácia, buscava um pacote de açúcar na venda do Faustino, prestativo, nunca reclamava. Já mais velho, era pau pra toda obra, concertar um arame caído, tapar um buraco, amansar um animal, sempre pronto pra tudo, o Prefeito Amaral, já tinha cogitado emprega-lo. Bem, um bom rapaz conhecia a todos e a tudo.

Chamou o soldado Basílio que estava de guarda e ordenou, traz o preso aqui. Vou interroga-lo, disse meu avô.
Chamo o Durval escrivão? Perguntou o guarda, deve estar em casa aqui do lado, emendou.

Não retrucou, quero primeiro falar com este, depois, se for o caso, tomo depoimento a termos.

O rapaz chegou, olhos esbugalhados, entre a aparência de tímido ou amedrontado, mas não desesperado.

Com sua experiência de delegado foi logo inquirindo, sem rodeios. Me conta tudo. Pra que possa te ajudar, não mente. Como fostes te meter nesta? Por que? O que tua mãe vai pensar?

Bem Doutor, o Senhor sabe.

Não, não sei, conta.

Eu tinha umas dívidas, largou o Nhoca, o senhor sabe, repetiu, lá na birosca do Galego, na venda do Faustino, até pra Mãe, derramou-se a falar. Já não dava mais. Nem uma canha me liberavam.

Mas meu filho, argumentou paternalmente e com o enfado de policial, pelo que eu sei, tu roubastes muito mais do que tudo isto, só os cem contos de réis do Prefeito pagava tudo. Isto não justifica e não precisavas. Era só trabalhar, nunca te faltou emprego. Eu agora entendo porque não aceitasses o trabalho na prefeitura.

É Doutor, é verdade, mas eu fui me acostumando.

Mas e o porco do Gaudêncio, quase que esse te mata.

Doutor, eu sabia que dava errado, mas não resisti, ele tava ali, facinho.

Estas desculpas da Dilma para o PETROLÃO me lembra o fato "tava ali, facinho"

Nenhum comentário: