Estamos às vésperas de mais uma posse presidencial.
Dilma Vana Russef toma posse dia primeiro como a 36ª. Presidente da República Federativa do Brasil. Ex menina típica da classe média alta, filha de empresário da metalurgia mineira e de mãe professora, mais ligada ao lar que ao magistério, que logo cedo, principalmente pela influência das correntes políticas românticas marxistas –Regis Debray -, que insufladas na guerra fria, pululavam na juventude contemporânea pelo mundo a fora, aderiu em meados dos anos 60 à luta armada e a contra-revolução.
Quem é Dilma? Dela pessoalmente pouco se sabe, sua carreira como militante armada da esquerda é pouco significativa, até porque, embora muito se alarde, no Brasil este movimento não prosperou além de uns poucos fracassos retumbantes. Assim, desta fase o que se tem de mais notório é a sua prisão, suas confissões, aforismos sob tortura, e seus relacionamentos com seus ex-maridos. Estes sim se pode dizer foram influentes e fundamentais em seu futuro atual. O primeiro por tê-la recrutado e iniciado na esquerda e o segundo, seu amante e companheiro nos tempos de clandestinidade e prisão, que a encaminhou politicamente pelo PDT brizolista às suas primeiras participações na política gaúcha.
Sua participação política e administrativa sempre foi secundária e de pouca relevância, seus sucessos ou fracassos sempre foram subordinados, não lhe sendo atribuída nenhuma iniciativa.
Sua ida para o ministério de Lula fez parte de um acordo partidário e regional e com autonomia limitada, não tinha controle sobre a maioria das nomeações de seu segundo e terceiros escalões.
Sem dúvida, como solução de emergência, pós mensalão, quando o mundo político petista desabava, conquistou prestigio pessoal junto ao Presidente que a vendo como alternativa, moldou, ordenou e a dirigiu a imagem e semelhança, segundo suas pretensões sucessórias.
Aluna devotada demonstrou talento impar em mimetizar, fazer e se comportar em tudo que seu chefe Lula mandava.
Agora, queira ou não estará só.
Cláudio Galeno, Carlos Araújo e Lula não mais estarão as suas costas, qual Dilma irá emergir?
Com certeza não será a militante de: "uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo"
Não que isto pudesse significar grandes problemas, a Sociedade e o Estado brasileiro são grandes e complexos demais para que possa se influenciar por personalismos, sejam os que forem. Que se observe Lula. Se seu governo fosse de atuação ao acordo de suas intenções e palavras propugnadas, estaríamos num dos piores cenários. Não foi o que aconteceu. Para não perder o estilo, como não tinha alternativa, apropriou-se de tudo e todas as iniciativas alheias. Inaugurou desde intenção, até obra pronta de outro. Teve como grande mérito não fazer nada de novo, deu continuidade ao trabalho de FHC e Itamar, turbinado por uma conjuntura extremamente favorável e a inexistência de oposição, até porque essa não poderia renegar seus princípios, fundamentados nos Plano Real e de Estabilidade Econômica.
O mensalão, muito ao contrário de prejudicá-lo, lhe foi extremamente benéfico na medida em que o libertou do jugo político e dialético do PT, levado a lona grogue e como os demais aliados sem rumo e anestesiados. Sem alternativa, deixou como estava para ver como ficava e foi seu mérito. Afastado da distopia esquerdo petista, estava marcada a trilha para o sucesso da popularidade e foi o que ocorreu.
A Dilma não resta muitas alternativas e tem afirmado, vai dar continuidade ao Governo Lula.
Em seminários e conversas as equipes de governo vêm apresentando sem reservas e afirmando dentro deste espírito de continuidade, um endurecimento, no sentido de austeridade nas contas pública, buscando equilíbrio fiscal pleno, não somente superávit primário, como também um rígido controle de inflação e equilíbrio cambial, nestes casos operados por desoneração fiscal, principalmente da folha salarial.
A atividade econômica, no tocante a investimentos, de modo especial em infra-estrutura, será cada vez mais atribuída ao setor privado, que deverá se prover inclusive com financiamento próprio e neste caso corrobora as atuações acima mencionadas, na medida em que promoverão continuamente a queda na taxa de juros, ficando o governo com a responsabilidade da manutenção e efetivação dos programas de transferência de renda.
O financiamento dos desequilíbrios nas contas externas e o fluxo privado de investimentos devem ser mantidos pela entrada de capitais de fora – investimentos diretos + curto prazo - o que assegura a permanência de um real forte, mas tornado competitivo pelo equilíbrio fiscal e a desoneração tributária, como foi dito.
As empresas estatais cada vez mais atuarão em pareceria através de associações e fusões com empresas privadas.
O setor de crédito estatal tem demonstrado, sem reservas, estas intenções nas recentes associações e fusões do Banco do Brasil – principalmente na área externa - e Caixa Econômica Federal e mesmo no BNDES através dos processos associados de financiamento e capitalizações de empresas privadas. O processo de privatizações do modelo de gestão e controle operacional será cada vez mais implementado, sem a venda direta das empresas.
No setor de energia, particularmente na Petrobras, a cada vez maior parceria com o setor privado, demonstra efetivamente esta direção, vide o setor sucro-alcooleiro, isto sem contar com um incremento de participação do capital estrangeiro cada vez mais definitiva.
Nos demais setores ainda com controle estatal – ex. aeroportos -o modelo deve se repetir, até mesmo com medidas de incentivo aos estados para rumarem na mesma direção.
A reestruturação tributária também deverá ser objeto de iniciativa legislativa, principalmente tendo como foco a harmonização nos estados e municípios, a modernização do caquético Imposto de Renda e a desoneração da folha de salários. No entanto, determinadas atitudes a exemplo do Refis e Simples deverão ser implementadas por ato do executivo.
Junto a questão tributária a reanimação dos sistemas complementares de saúde e previdência deve ser retomada, neste caso, na verdade, uma inovação estratégica e diferenciada dos outros governos, com reflexos de médio e longo prazo.
A questão externa, esta sim, bastante delicada, ante o embate EEUU e China, deverá ser vista com muito cuidado e poderá ser um calcanhar de Aquiles na inexperiência da novel Presidente, como o foi para Lula. No âmbito regional apesar das próximas eleições na Argentina, Peru e México não se devem ter maiores surpresas, mesmo em delírios bolivarianos. As divagações sobre África, Oriente Médio, Haiti, etc., não devem preocupar, é impossível errar mais do que o Lula.
O Pré-sal e a dependência brasileira às exportações de commodities estratégicas, como minérios, principalmente para a China, podem nos colocar no centro de um nó que, com certeza se delineia no tempo. Este fato, além do consumo, déficit e superávits comerciais de países emergentes e desenvolvidos – centro da crise atual - é que deverão ocupar agenda política estratégica da década e sem dúvida definirão as perspectivas de futuro. Nestes episódios não poderemos continuar como na peça de Beckett (1906/1989) Esperando Godot, sob pena de terminarmos no impasse final com diálogo que encerra a peça:
Vladimir: Então, devemos partir? (Alors, on y va?) (Well, shall we go?)
Estragon: Sim, vamos. (allons-y.) (Yes, let's go.)
Eles não se movem. (Ils ne bougent pas.) (They do not move.)
Nos demais setores, saúde, educação, justiça, segurança etc. teremos mais do mesmo, até porque pouco ou nada pode atuar além o Governo Federal e ante a austeridade... nada.
Pode-se vislumbrar alguma turbulência em torno de situações pontuais em função da Copa e das Olimpíadas, ou de casos como do exótico Trem Bala, mas nada com maiores repercussões além da popularidade e bate boca governamental.
Deverá se iniciar, para manter um debate político em foco, a dita reforma política que, com certeza, em nada deve alterar o quadro atual.
Nada mais neoliberal.
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