domingo, janeiro 25, 2009

O SUB-PRIME BRASILIENSE

Com se iniciam as crises
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O SUB-PRIME BRASILIENSE

A “crise”, que desde a quebra do Lehman Brothers, não dá trégua no noticiário, tem levantado várias questões e também apresentou novos termos ao cotidiano.
Entre estes se destacam derivativos, sub-prime, operações alavancadas, hedg funds e outros.
Mas parece que nós não aprendemos, recentemente o Correio Brazilense noticia com algum destaque, que a BRB, banco que está sendo vendido ao Banco do Brasil, está a adquirir e repassando a investidores, por trezentos milhões de reais da Terracap a carteira de recebíveis relativa aos financiamentos da venda de lotes.
Esta operação tem por função alavancar os recursos da empresa lhe permitindo expandir suas operações notadamente as que se referem ao novo bairro - NOROESTE.
Se esta operação não causasse estranheza, pelo inusitado da relação inter-estatais do GDF, sendo que uma delas em processo de venda, o fato técnico da operação é o melhor exemplo do tipo de negócio que proporcionou o início da bolha e causou o estouro da economia americana, européia e por conseqüência a mundial.
Mas como funciona este mecanismo? Porque dos cuidados que se tem que tomar ao operá-lo:
A venda de lotes parcelados pela Terracap é feita sob avaliação de risco do vendedor, ou seja, quanto maior o lance ofertado melhor o negócio, sendo este financiado.
Exemplo: Você tem um terreno e vende por 1 milhão em 30 prestações de 33 mil, representadas por notas promissórias e fica muito feliz.
Este critério, não leva em conta o risco efetivo de liquidez do mercado, ou se seja, a efetiva probabilidade de retorno do capital, no caso de inadimplência, mudanças de perspectivas etc.
Quando este aspecto fica no âmbito interno da empresa imobiliária, seus reflexos serão exclusivos de ordem endógena, circunscritas ao seu fundo de comércio, o seu capital e às responsabilidades de seus acionistas.
Exemplo: Se você fica com as promissórias e se limita a somente cobrá-las no vencimento, não há maiores problemas.
Na medida em que estes financiamentos feitos com critérios duvidosos, estabelecidos sob a visão míope de discernimentos exclusivamente internos, são repassados ao mercado e por decorrência aos poupadores privados, seus resultados são previsivelmente catastróficos.
Primeiro, o nível de risco antes exclusivamente restrito ao capital da empresa tende a se multiplicar nas suas qualidades e defeitos, mas principalmente nas suas mazelas, o que é mais comum, até porque já são formados com vício de origem. Está é a primeira quebra do fundamento do bom crédito.
Exemplo: Você vai a um banco “amigo”, que desconta essas duplicatas. Sem avaliar a garantia efetiva.
Quando começam a contaminar e geralmente já nascem contaminados, até em função de que as empresas que procuram estes mecanismos o fazem por já estarem com dificuldades de financiamento e liquidez e passam a buscar volumes descontáveis e não mais qualidade, passando a operar pela demanda, ou seja, precisam produto para girar, neste momento o intermediário financeiro passa a ser também dependente – pela previsível inadimplência e dificuldade de execução das dívidas. O exemplo extremo são as pirâmides, de triste memória.
Exemplo: Você usa o dinheiro descontado no banco, compra mais terrenos inicia a construção de infra-estrutura e pretende pagar o banco com a venda desses terrenos etc.
No entanto, o comprador de seu terreno – por qualquer motivo - não lhe paga mais, propondo a sua devolução, você precisa dinheiro para pagar o banco que precisa receber as promissórias para pagar a seus depositantes, os compradores do seu empreendimento param de pagar, pois, inseguros, não vislumbram mais retorno.
Os depositantes do banco são os primeiros (crise bancária) os investidores em terrenos vêm logo após, isto multiplicado é a crise.
O caso Terracap/BRB tem todos os vícios, não é um negócio, é uma determinação política, a função e liberar recursos para possibilitar a oferta do setor Noroeste aquecendo a demanda, onde se comenta, o preço de venda tende a R$8 mil o m2.
É historia triste o mocinho morre no fim.
Este é o exemplo puro de como se iniciou a crise.
No entanto, se isto só não bastasse, temos no mercado nacional outras tantas bombas espalhadas, como, por exemplo, recebíveis de energia, é garantia de novas emoções.

Ary Alcantara

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