terça-feira, janeiro 03, 2006
Um Crime
Perpetua-se de forma lenta, sistemática e gradualmente crescente, um crime, contra um setor, ao qual a Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul muito deve e no qual muito investiu, que é a fruticultura, notadamente a Cultura do Pêssego.
Cultura desenvolvida por nossa colônia, em pequenas propriedades, de forma diversificada e variada, cresceu e transformou-se num dos principais itens da nossa economia.
A instalação do Centro de Pesquisas da EMBRAPA veio coroar a nossa capacitação com o desenvolvimento de cultivares adaptados à região, em resistência e produtividade, tornando-nos competitivos com as principais regiões do mundo.pela qualidade e custos de produção.
O rendimento alcançado por hectare, nos nivela aos principais centros produtores A diversidade de nossos cultivares nos permite uma extensão do ciclo produtivo, de outubro a fevereiro, e de tipos e variedades que tornam nossa cultivo eficiente nos mais diversos segmentos do mercado. Sem contar que produzimos no inverno do Hemisfério Norte o que amplia o nosso universo de comercialização.
O desenvolvimento de tecnologias, de manejo e produção, também fruto do grande investimento em pesquisa, conclui por um maior controle sobre os riscos naturais, com a utilização de defesas eficientes, permitindo um melhor planejamento da logística de comercialização e industrialização.
Mas parece que todo esse extenso patrimônio, na mais larga conceituação do termo, não vale nada. A cotação de R$ 0,50 (cinqüenta centavos de real), proposta pela indústria, por Kg de pêssego, por si só seria vergonhosa para a pior qualidade de fruto. Mas só isto não basta, a indústria de conservas agora limita a quantidade a receber, isto depois de aprazada com o produtor, além de desclassificar, descontando o pêssego entregue, por seu único exclusivo critério, sobre o qual não se tem o menor controle.
Mas, o pior ainda está por vir. A indústria só vai pagar ao agricultor muito tempo após a entrega do produto; até 8 meses se não mais, financiando, com custos, o produtor primário o processo industrial.
Em resumo, o produtor escolhe e prepara a terra, melhora o solo adubando e fazendo culturas prévias, selecionam mudas (essas resultado de anos de pesquisa), planta, aduba, aplicam defensivos. Após três anos tem a primeira colheita e com cinco anos começa a produzir, isto após podas sucessivos, raleios, replantios, secas, chuvas torrenciais, granizos, geadas, pragas etc., e produz um dos melhores frutos existentes. Para isto gastou na terra, trabalhou, comprou máquinas e implementos a custos crescentes, adubos e defensivos que dobraram de preço, pagou mão de obra, empregou em larga escala no meio rural (fato raro e desejável). Em síntese, moveu a economia, investiu e correu todos os riscos.
O que recebe em troca? Trinta centavos por quilo, em média, com os descontos, do pêssego que conseguiu entregar e não perdeu no caminhão, porque a fábrica não recebeu.
O faturamento deste ano, para a maioria dos produtores, será inferior a 50% do realizado no ano passado, com custos largamente maiores.
Ë uma covardia e um desrespeito com o produtor, é um CRIME.
Não entro no mérito da indústria local que, sem capital, excessivamente imobilizada, financiando com capitais de terceiros seus ativos de baixa eficiência, a juros elevados, apresenta níveis de exigibilidades que não lhe permite investir em tecnologia de produção e comercialização, logística e novos segmentos de mercado, nem se adaptar ao novo padrão de consumo moderno, permitindo-se dar destino mais eficiente ao excelente produto que tem à disposição.
Pergunto:
Onde estão as iniciativas do setor público? Ou seja, de ordem política?
Para que ter Bancos Estatais comercias e de desenvolvimento, se esses não têm uma política presente na estruturação de setores como o que exemplificamos?
Onde estão as agências de fomento e promoção que deveriam procurar mercados diversificados?
Por que manter o maior gravame tributário do mundo nos meios de produção?
Não quero acreditar que seja para favorecer alguns, ou mesmo ao “parceiro” vizinho do Mercosul, a quem estamos cedendo os espaços em nossas gôndolas de super mercado.
Quero acreditar que seja pelo desconhecimento e ignorância dessa realidade.
Ë triste ver um trabalho de gerações ser amesquinhado e jogado fora.
É imprescindível que se adote uma postura de desenvolvimento do setor, em uma verdadeira parceria público privada, onde o Estado cumpra seu papel de política de desenvolvimento, assegurando aos produtores os meios reais de concorrência e participação nos mercados, evitando o aviltamento de um patrimônio produtivo de uma região.
Nessa linha lanço meu veemente protesto de empresário e produtor, lembrando meu pai, produtor por mais de 50 anos e imagino sua revolta se aqui estivesse presente.
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