terça-feira, agosto 01, 2017

A questão sucessória, a crise política, a revisão constitucional e a democracia. - ARTIGO que escrevi em 1993


Da mesma forma que em um triângulo, em que cada lado pode ser a base, mas quem determina a forma são os ângulos dos vértices, o processo de maturação da  sociedade brasileira passa pela ordenação destas questões independente de qual base se escolha.

Iniciando-se uma análise pela situação política com vistas para o ano de 1994, em que vamos conviver, com as conclusões dos processos de apuração e julgamento dos casos de corrupção, originários fundamentalmente das duas CPIs, " Pc " e "orçamento", revisão constitucional, eleições gerais, começo minha avaliação sobre esta última:

           - As eleições do próximo ano são de características únicas e bastante especiais na história brasileira, pois pela primeira vez vamos ter em coincidência a eleição do Presidente da República e Vice, Governadores e Vices, dois Senadores e Suplentes em cada Estado, Deputados Federais e Estaduais, por outro lado pela primeira vez não estamos vivendo a mistificação de uma panacéia redentora como foram tantas as outras com as quais convivemos nos pleitos anteriores.
           - Passando por uma profunda crise econômica e política, transitando em um período em que se produziu a cassação por corrupção, do Presidente da República, sucedendo-lhe seu próprio Vice, vive o país o completo funcionamento das suas instituições com a mais completa observância da ordem constitucional.
           - Aos partidos políticos caberá nesta fase o grande desafio, de articular de forma harmônica, de norte a sul o espírito federativo, ou seja, conciliar a escolha do nome dos candidatos da chapa majoritária maior, ou seja, a do Presidente e Vice até os candidatos a Deputados Estaduais, passando pelas dos Governadores.
           - Neste trabalho a observação da coerência, se é que ela existe em política, é fundamental, pois é imprescindível ao sucesso eleitoral, que um candidato da base partidária tenha a coincidência com o de vértice, é condição necessária a este sucesso que o candidato a Deputado Estadual de um partido apóie o Governador do mesmo e sucessivamente até ao candidato a Presidente, assim as coligações espúrias e casuísticas de âmbito regional serão impossíveis no âmbito das organizações partidárias.





Outro tema a se debater é a questão da reforma constitucional:

           - A proposta de revisão a constituição não deveria impor mudanças no conteúdo político da carta, devia sim, e de forma urgente escoimar as limitações casuísticas existentes na forma atual, liberando à nova estrutura política, que emergirá das eleições vindouras, a possibilidade de organizar por legislação simples, as estratégias necessárias ao cumprimento de suas metas eleitas.
           - Esta liberalização é determinante ao processo democrático pois da forma como está posta na nossa constituição, limita à quase unanimidade congressual, a adoção de qualquer medida mais ou menos liberalizante, engessando qualquer ação política ou administrativa mesmo sendo majoritária.
           - Por outro lado esta liberalização, que deveria também estender-se aos direitos e deveres, daria um tom mais programático ao processo eleitoral determinando aos partidos e a seus candidatos a adoção de plataformas claras de campanha que poderiam ser aferidas e cobradas por seus eleitores.
           - Desta liberalização se beneficiaria inclusive o atual governo, que poderia mesmo em sua fase final adotar medidas mais pertinentes à melhor ordenação do país de forma objetiva.
           - A atual representação política brasileira deveria limitar-se apenas a atestar a sua incapacidade de produzir qualquer alternativa, não mais aprisionando, mas liberando aos novos eleitos, propor politicamente a seus eleitores suas metas e estratégias e, se lograrem êxito eleitoral, executa-las, não mais se escusando de suas incapacidades no escudo constitucional.


A crise política:

           - A crise política pela qual estamos passando talvez tenha sido em toda a nossa história o maior benefício, só viável pela existência do pleno exercício da cidadania e das liberdades democráticas, tornou público as centenárias praticas espúrias adotadas pelas oligarquias dominantes, que mascaradas de falsos espíritos sociais, liberalizantes ou democratas, apenas procuravam a sua manutenção de estatus-quo no poder.
           - Essa situação que aflorou da justa indignação da maioria silenciosa destituída de qualquer cor ideológica, prepara o alicerce da nova fase política brasileira, mais expontânea natural e desapaixonada, apenas cobra o natural, que é o comportamento honesto e digno de qualquer membro da sociedade e determina que aqueles a quem  elejam como seus representantes e lideres, sejam o exemplo de sua esperança de comportamento geral e que os desvios sejam exemplarmente punidos não dando margem de dúvida sobre o real caráter da  nossa sociedade.
           - Este Congresso e o Governo que aí está não deveria se arvorar a mais nada, apenas a apurar e apresentar a justiça os culpados de todas estas ações deletérias que mais parecem hábitos e práticas de tão comuns, preparar e ordenar a reforma constitucional para que os novos eleitos possam efetivamente implantar o país real e desejado pela sociedade que os elegerá e,  de importância vital, dirigir a organização das finanças públicas da moeda e do câmbio, de forma racional, evitando que a completa deterioração da estrutura  econômica leve o país a uma situação incontrolável que apenas beneficiaria às mesmas oligarquias que agora começam a ser afastadas.
           - A estas ações e que se espera as manifestações das verdadeiras personalidades isentas e corretas que, como Jarbas Passarinho e Roberto Magalhães sabem vestir o verdadeiro hábito do líder e homem público e sem constrangimento, cortar na carne de suas próprias instituições, para com a verdade dignificá-las.

           - Não se pode generalizar nas pessoas, mas é obrigatório que se generalize nas idéias, assim, não se generaliza a condenação aos homens públicos em geral Presidente, Governadores, Senadores, Deputados e Magistrados, mas é obrigatório que se faça aos métodos políticos que os levaram ao poder  neste triste ocaso  de legislatura . 

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